"Eu é que não sou grande pescador", disse-me o velhote lá nas rochas, todo sorridente, com a camisa de flanela por fora das calças. A aproveitar os últimos raios do dia. com uma descontracção arrebatadora. Tudo porque hoje ainda não tinha pescado nada. Nada de peixe no balde. Ao contrário de um tipo que tinha lá estado antes e tinha saído com a cesta cheia. Eu perguntei-lhe de volta: "O que é isso de ser um bom pescador? Se calhar é só ter melhor isco, ou não? Estamos aqui quietos, limitamo-nos a atirar a linha lá para o mar. Os peixes é que escolhem qual é o isco que mais gostam, não é assim?"
Ele concordou comigo. Apesar de ter visto que eu não percebia nada daquilo. E fiz questão de lho dizer. Veio uma nuvem e tapou o pôr-do-sol que eu tinha ido ver. Foi aí que a cana começou a abanar. Parecia que havia algo a picar o anzol. O velhote lá desceu as rochas, aproximou-se da rebentação e começou a rodar o carreto.
Veio parar-lhe às mãos um pequeno sargo. Minúsculo. Ele riu-se, contente com o troféu do dia. Trouxe-o para cima, para o cesto dele, onde o limpou com uma toalha. "O gato também come!"
Não o devolveu ao mar, é certo. Mas, caraças, também não havia ali uma ponta de ruindade naquele homem.
Um dos meus filmes preferidos. A prova que Jim Carrey é um excelente actor, que faz o papel que quer. E que Kate Winslet estava talhada para receber o prémio que ganhou na segunda-feira.
A cena final é de uma simplicidade/complexidade arrepiante.
Agora é a balofice da terça-feira dos mascarados. Deixai-os andar, na folia. Sim, que andem. Que festejem. Que celebrem. Que o façam por mim.
Depois é a Quaresma. Os quarenta dias sagrados de redenção. Deixai-os andar, na reflexão. Sim, que andem. Que pensem. Que cresçam. Que o façam por mim, se assim quiserem.
Eu fico por aqui, a vaguear sozinho. Depois chamem-me, sim?
Não é de álcool. Esta é das boas. De me ter deitado às 5h30, depois das ligações em directo ao outro canto do mundo. Não dói a cabeça. Fica apenas a vontadinha louca de encontrar por aí alguns filmes, como este "Okuribito".
Oscila tudo. Parece aquele mar, com o caudal a encher. Com o "set" a vir, as sete ondas a marcarem ritmo. Maré vazia, muito ligeira, com crianças a brincar à vontade lá na praia, de bandeira verde. Com algumas pocinhas onde podem brincar. Mas sempre aquelas ondas a entrar.
De quando em vez vêm três ou quatro vagalhos que fazem a malta das pranchas remar com mais força. Alguns, os mal colocados, para fora, para não levarem com o rebentamento nas costas. Outros, os bem colocados, mandam um assobio ou um sonoro "oi" para se fazerem ouvir a quem aparece à frente da remada.
Mas a onda não é assim tão grande. Não são marés vivas, daquelas que levam tudo à frente. São ondas que apanham os banhistas, os atiram para debaixo de água e, se for preciso, lhes tiram os calçõeszinhos. São daquelas ondas que, quando rebentam, e apesar de serem pequenas, deixam os luso-descendentes da Europa Central que estão de férias na Fonte da Telha e que usam muito a tanga colorida, com o topo do rego do rabo à mostra. Que fazem com que as senhoras apareçam com a parte de cima dos seus biquinis da Decathlon na barriga, deixando antever os enormes seios que tocam no umbigo. Malditas as ondas, que nos fazem a todos engolir pirolitos!
Não são grandes vagalhos. Mas causam tormenta. Abanam. Fazem cair. Os banhistas levantam-se. Caem de novo. E ainda faltam vir as marés-vivas... Malditas tempestades, pá.
Ainda bem que ele vem cá dia 11 de Julho. Está na hora de eu o ouvir dignamente. Como ele o merece. "But I do know one thing": se há quem diga sempre a coisa certa, Dave Matthews diz a coisa certa da forma certa. Mas isto sou eu que digo. E a Música toca em cada um como cada um deixa que a Música lhe toque... fiz-me entender?
Sucesso! Consegui encontrar o "Countdown Club". Hoje em dia chama-se "Maxim's Casino Club" e, tal como o nome indica, é um casino.
Era nesta antiga casa vitoriana que os Pink Floyd Sound, em 1965, tocavam com frequência. Ainda sem David Gilmour. Diz Nick Mason que foi aqui, neste clube, no então "Countdown Club", que a banda começou a aperceber-se "da importância dos solos nas músicas". Era neste clube que faziam três sets de noventa minutos, com pequenos intervalos, em que eram obrigados a repetir os temas.
As bebidas também eram bastante baratas. "À medida que a noite se alongava, íamos ficando sem canções e íamos percebendo que o álcool afectava a curta memória do público. Foi o início da percepção que as canções podiam ser estendidas com solos mais longos", lê-se no livro "Inside Out", escrito pelo baterista.
Hoje consegui encontrar o sítio. E sim, fiz questão de o procurar. De ver mapas. De entrar em bares enganados. E o que descobri é, no fundo, um casino de bairro. Com muito charme.
Mas não era o que queria ver.
Criei expectativas a mais.
A cave de que Nick fala não existia. Essa cave está cricundada por uma grade, que limita a entrada, muito seleccionada. O casino abre cedo, às 2 da tarde e a recepcionista não me conseguiu explicar bem porque é que estava encerrado, se eu fui lá às 18h30.
Havia muito veludo vermelho nas paredes. E estavam todos vestidos de preto. Se a minha ideia inicial era beber uma pint a tentar imaginar ou cheirar algo que me levasse a 1965, essa intenção esbarrou-se na entrada. Queria encontrar posters na parede. E um velho taberneiro que contasse histórias. Mas não. Sejamos sinceros. Numa das ruas paralelas ao Royal Albert Hall, havia ali muito pouco de romântico.
Ok, o restaurante era fancy. E o tal bar que a recepcionista vestida de preto me falou. "Acho que sim, que era um clube muito antigo. Mas já foi há muitos anos", responde-me ela, depois de ler o parágrafo do livro do baterista dos Floyd. Pois menina, passou-se em 1965, aquilo que de que estou a falar...
Também não interessava. Interessava pouco. A qualquer um. Aqui o romântico era só eu. Eu mais o porteiro do meu hotel, o Tony, que me ajudou a encontrar o antigo "Countdown Club". E que, à falta de melhor, me aconselhou a ir ver os Australian Pink Floyd ao vivo. É o melhor que eu posso encontrar nesta altura.
Primeiro passa o "double decker". Depois o taxi à antiga. Cá do quinto andar deste prédio na Kensington High Street conseguem ver-se algumas das luzes da cidade. Do grande mundo londrino. Lá em baixo estão uns miúdos num passeio, sentados à porta de umas casinhas de bonecas. Só há uma loja aberta, a "Crispins", que publicita no toldo "food and wine".
Estou de volta. Sinto-me tão em casa. Eu e os quinze milhões que aqui moram.. Que suportam este frio que sabe bem. Esta chuva que é reconfortante.
Se calhar digo isto, de barriga cheia. Mas que sempre me soube bem voltar e que nunca me desiludiu, isso é verdade. Mesmo por caminhos "travessos".
PS - No avião vinha a ler algo sobre o "Countdown Club", nesta mesma rua, no número 1A, Palace Gate. Gostava tanto que isso ainda estivesse por aí...
Hoje de manhã a minha mãe foi dar-me um beijinho à cama. Soube-me muito bem. Apesar de só a ver de semana a semana, o facto de ter de ir para o aeroporto levou-a até lá. Mas eu quis que fosse assim.
"Ainda só são nove horas. Podes dormir mais, filho". Mimadão, aqui este puto charila.
Confesso que estou mortinho por ver "Inglorious Basterds".
É a junção de dois mundos no cinema que gosto bastante. Por um lado Quentin Tarantino e por outro as histórias da II Guerra Mundial, sempre profícua em histórias interessantes. Por isso também gostei de "Valquíria", o filme de Brian Singer que está nos cinemas.
Mas voltando a "Inglorious Basterds", foi todo ele filmado na Alemanha e conta a história de um grupo de soldados ex-reclusos que procuram aniquilar nazis. E analisem, desde já, a imagem e a postura de Brad Pitt... Cheira-me a filmaço.
Tenho grandes memórias desta rapaziada. Um pouco pró roto, mas quem faz música assim e fez tanto álbum bom pode apanhar onde quiser. Gosto muito de Brian Molko e companhia. E hoje decidi metê-los no iBruno para me fazerem companhia durante a tarde.
Há por aí previsões para um álbum durante este ano. E espero que seja bom. Mesmo agradável. Gostoso, sonoro. Com malhas e relíquias. Mas eu também ando a ser arrebatado com facilidade. Qualquer Lá# me soa bem...
Sentado na última fila da Aula Magna passou-me pela cabeça muita, muita coisa. Foram, sobretudo, descargas eléctricas. Que é um pouco isso que eles fazem. Ladeado por dois desconhecidos que durante quase duas horas se tornaram comparsas, lembrei-me de Alexander De Large e da electricidade que lhe enfiaram no cérebro. Esta foi boa. E quando parecia que estava a doer, estava a saber bem.
É giro os Mogwai estarem em palco, a debitar decibéis estrondosos, disotrcidos, aguerridos e não dizerem nada. Sermos nós a construírmos o filme na cabeça.
"Helicon" e "Friend of The Night", assim de seguida, foi algo memorável. O resto foi apenas cinematográfico.
Notícias fresquinhas ao acordar. Yann Tiersen vai dar três concertos em Portugal, a 4, 5 e 6 de Julho. O primeiro na Figueira da Foz, o segundo em Famalicão. O terceiro vai ser no CCB. Só para este último é que os bilhetes já estão à venda nos locais habituais e os preços variam entre 27,5 e 35 euros.
A Beatriz sentou-se ao meu lado a ver fotografias nossas. De quando ela era bebé. Sim, porque agora já é uma mulherzinha, que vem da escola com as unhas pintadas de cor-de-rosa e adora enfeitar os caracóis com ganchos. Viu uma fotografia de nós os dois. Ela ao meu colo, com oito meses.
"Quem é esta bebé?", perguntei. "É a Ba-tiz", respondeu. "E quem é que está ali com a Beatriz ao colo?". Ela olhou e viu um tipo sem barba. Sem óculos. De fato. A sorrir, como sempre. Mas muito diferente do que é hoje. "É impressionante. Mudaste muito nos últimos anos", dizem-me mais tarde, no café do senhor Paulo por entre um vasilhame e copos de caipirinha. "Foi a barba, foi os óculos... De repente tens 26 anos".
Será que foi só a barba e os óculos? Será que estou assim tão diferente? A Beatriz não sabe quem era aquele tipo que estava com ela ao colo. Tive de tirar os óculos para ela me reconhecer um bocadinho mais. Mas também não foi fácil.
Acho que sim. Que passou um bom tempo. Passou um óptimo tempo. Felizmente que continuo o mesmo de sempre para quem me conhece bem. E esse sei eu e sabem todos que nunca muda. "E o tio fica mais bonito com ou sem barba?", pergunta a mãe. "Sem", responde a Ba-tiz. Nem sem barba.
O valor da desnecessidade. Palavra que nem sei se existe. Mas que é o que vai saltitando em redor. Cria-se nas imediações, ou mesmo lá por dentro, para dar um tom corpóreo à neblina. A desnecessidade. “Não havia necessidade”, dizia Diácono Remédios. Mas, com a resignação, engatam-se os sentimentos às costas e caminha-se estrada fora. E, suados, aporta-se aqui e acolá, para ligeiras descargas. Mas, a verdade, é que tudo continua em nós. Descansadinho, guardado, de onde nunca saiu.