sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

"Eu é que não sou grande pescador", disse-me o velhote lá nas rochas, todo sorridente, com a camisa de flanela por fora das calças. A aproveitar os últimos raios do dia. com uma descontracção arrebatadora. Tudo porque hoje ainda não tinha pescado nada. Nada de peixe no balde. Ao contrário de um tipo que tinha lá estado antes e tinha saído com a cesta cheia. Eu perguntei-lhe de volta: "O que é isso de ser um bom pescador? Se calhar é só ter melhor isco, ou não? Estamos aqui quietos, limitamo-nos a atirar a linha lá para o mar. Os peixes é que escolhem qual é o isco que mais gostam, não é assim?"

Ele concordou comigo. Apesar de ter visto que eu não percebia nada daquilo. E fiz questão de lho dizer. Veio uma nuvem e tapou o pôr-do-sol que eu tinha ido ver. Foi aí que a cana começou a abanar. Parecia que havia algo a picar o anzol. O velhote lá desceu as rochas, aproximou-se da rebentação e começou a rodar o carreto.

Veio parar-lhe às mãos um pequeno sargo. Minúsculo. Ele riu-se, contente com o troféu do dia. Trouxe-o para cima, para o cesto dele, onde o limpou com uma toalha. "O gato também come!"

Não o devolveu ao mar, é certo. Mas, caraças, também não havia ali uma ponta de ruindade naquele homem.