terça-feira, 12 de agosto de 2008

Sim, volto a dizer, sou menino da mamã

Já te vejo assim sentada há muitos anos. Sempre em contra-luz por causa do mesmo candeeiro - que nunca conheci outro - a iluminar-te junto à parede e que me mostra apenas a tua sombra, a tua silhueta. Tens esse ritual todos os dias: sentas-te na cama, tiras os óculos enquanto bocejas e depois esfregas os olhos. Deitas-te e apagas a luz.

Hoje reparei que é uma imagem que se repete desde pequenino. E bateu-me cá atrás, no baú das memórias.

Tenho andado assim nos últimos tempos. A recordar-me, a recordar-vos. Desde aquela noite em que vi a mala dele. Aquela mesma que ele transporta diariamente com o almoço. E o lanchinho, mais a peça de fruta. Tudo preparado por ti, com o mesmo carinho de sempre. Ao lado estava a abóbora de porcelana, que fica ali em cima do fogão. Há anos. E, de repente, as memórias afectivas, as marcas que me construiram, deixam de fazer parte do meu dia-a-dia. Não é de admirar que eu volte cá tantas vezes. Ainda bem que posso.

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